Neurofibromatose é uma doença neurológica genética que afeta o padrão de formação e crescimento dos neurônios. É uma doença rara e juntamente com outras condições, como a epidermólise bolhosa, xeroderma pigmentoso, esclerose tuberosa e ictiose, faz parte de um grupo de doenças com manifestações cutâneas e em outros órgãos denominado genodermatoses.
Algumas genodermatoses, como a neurofibromatose, podem formar tumores, ou neurofibromas, benignos e malignos, que crescem ao longo dos nervos ou sob a pele e que podem impactar a qualidade de vida, causando exclusão social, vulnerabilidade psicológica e cultural.
Tipos de Neurofibromatose
A neurofibromatose é classificada em três grupos de doenças:
- Neurofibromatose tipo 1 (NF1): Também conhecida como Doença de Recklinghausen acomete 1 a cada 3 a 4 mil pessoas. A doença é caracterizada por lesões de pele como manchas café-com-leite e sardas, presentes desde o nascimento, e neurofibromas, que se desenvolvem posteriormente. Além disso, sintomas neurológicos e anormalidades ósseas são condições frequentes.
- Neurofibromatose tipo 2 (NF2): Doença menos frequente do que a neurofibromatose tipo 1, afetando cerca de 1 a cada 25 a 33 mil pessoas. Ela se manifesta principalmente através de schwannomas vestibulares e tumores do sistema nervoso central, como meningiomas e ependimomas.
- Schwannomatose (SWN): Grupo mais raro de neurofibromatose acometendo 1 a cada 40 mil pessoas. Em 2005, a doença foi considerada um grupo adicional, pois é semelhante à neurofibromatose tipo 2, mas não é causada por alterações no mesmo gene. Pacientes com a SWN desenvolvem múltiplos schwannomas não intradérmicos.
A genética da neurofibromatose
- Neurofibromatose tipo 1:
É causada principalmente por mutações de ponto (ou SNVs) (95% dos casos) e raramente por microdeleções no gene NF1 que codifica uma proteína chamada neurofibromina 1, responsável pela proliferação celular. Ela é expressa em todas as células, mas principalmente em neurônios, células de Schwann e oligodendrócitos. Cerca de 20-50% dos casos de neurofibromatose tipo 1 são causados por mutação de novo (mutação nova, que não está presente nos pais) no gene.
Entenda mais sobre tipos de mutações nesse artigo.
- Neurofibromatose tipo 2 :
A neurofibromatose tipo 2 é causada principalmente por alterações no gene NF2 que codifica uma proteína chamada merlina, que está envolvida na movimentação e proliferação celular. Mutações de ponto no gene NF2 causam doença mais grave e são mais frequentes, mas deleções e duplicações também são comuns. O gene está localizado no cromossomo 22, sendo que mais de 50% dos casos da doença são causados por mutação de novo.
A neurofibromatose tipo 1 e tipo 2 possuem padrão de herança autossômico dominante e podem se manifestar de diferentes formas e gravidades mesmo em indivíduos da mesma família.
- Schwannomatose:
A SWN é causada por mutações nos genes SMARCB1 e LZTR1, localizados no cromossomo 22 e é herdada seguindo o padrão de herança autossômica dominante. Estima-se que menos de 20% dos pacientes têm história familiar conhecida da doença e a maior parte dos pacientes é diagnosticada após os 30 anos.

Síndrome de Legius A síndrome de Legius também é conhecida como síndrome NF1- like (tipo NF1), pois seus principais sintomas são semelhantes à neurofibromatose tipo 1: múltiplas máculas café-com-leite com ou sem sardas axilares ou inguinais. Estima-se que 2% dos pacientes dos que preenchem os critérios diagnósticos para neurofibromatose tipo 1 apresentam uma mutação em SPRED1.É causada por mutações no gene supressor de tumor SPRED1, localizado no cromossomo 15, e possui melhor prognóstico em comparação à neurofibromatose tipo 1. |
Sinais e sintomas da neurofibromatose
Sintomas da NF1:
Manchas café-com-leite: Manchas com mais de 0,5 cm de diâmetro, ovais e com bordas definidas e escuras. As manchas podem estar presentes desde o nascimento ou aumentar de número e tamanho conforme o envelhecimento.
Sardas ou efélides: Sardas que se desenvolvem após os 5 anos de idade localizadas principalmente nas axilas ou nas áreas da virilha.
Múltiplos neurofibromas cutâneos e subcutâneos: Tumores benignos que crescem em número e tamanho ao longo dos anos.
Neurofibromas plexiformes: Tumores que envolvem as raízes dos nervos espinais que crescem ao longo do eixo de um grande nervo. Neurofibromas plexiformes podem causar dor, alteração da forma do rosto e membros, problemas gerais no funcionamento do corpo, geralmente estão presentes desde o nascimento e podem virar um tumor maligno.
Nódulos de Lisch: Lesões oculares benignas e assintomáticas localizadas na íris.
Gliomas ópticos: Geralmente se desenvolvem antes dos 6 anos de idade e raramente progridem.
Outros sintomas incluem: Baixa estatura, aumento do tamanho do crânio (macrocefalia), escoliose e dificuldade de aprendizado (50-75% dos casos).
Além disso, portadores de NF1 possuem maior risco de desenvolver câncer ao longo da vida, como câncer de mama, sarcomas, gliomas entre outros.
Sintomas da NF2:
A doença é marcada por schwannomas vestibulares, tumores benignos localizados no nervo que transporta informações de som e equilíbrio do ouvido interno para o cérebro. Esses tumores geralmente afetam ambas as orelhas e podem ocasionar a perda auditiva parcial ou completa.
A neurofibromatose tipo 2 também pode causar o desenvolvimento de tumores do sistema nervoso central, como meningiomas e ependimomas em 50% dos casos. Além de schwannomas subcutâneos, neurofibromas e manifestações oculares, como a catarata, que geralmente ocorre na infância.
Os principais sintomas iniciam no começo da vida adulta e são relacionados a sintomas auditivos: zumbido e diminuição da audição. Assim, o diagnóstico inicial geralmente é feito pelo otorrinolaringologista ou neurologista e demora em média 8 anos para ser estabelecido.

Principais sinais e sintomas da Schwannomatose
A SWH é caracterizada pelo desenvolvimento de múltiplos schwannomas não intradérmicos, tumores derivados de células de Schwann que raramente se tornam um câncer, e meningiomas em 5% dos pacientes. Além disso, os pacientes geralmente apresentam sintomas neurológicos: dor neuropática crônica característica, que pode ser focal ou difusa.
Tratamentos para neurofibromatose
Devido à grande variação de sintomas dentre as pessoas com neurofibromatose, o tratamento deve ser personalizado, com foco nos sintomas apresentados por cada paciente, podendo envolver muitas especialidades médicas diferentes.
O aconselhamento genético para o paciente e sua família é altamente recomendado.
Diagnóstico da neurofibromatose
O diagnóstico da neurofibromatose é baseado em critérios clínicos determinados pela National Institutes of Health- NIH (Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos). O diagnóstico genético pode ser realizado, principalmente nos casos onde o diagnóstico clínico não é possível e para aconselhamento genético. Além disso, o exame genético pode ser útil para eliminar a hipótese da doença e promover o acompanhamento adequado do paciente.
Exames de diagnóstico genético para a neurofibromatose analisam o DNA do paciente em busca de mutações nos genes que podem causar a doença. O Painel de Neurofibromatose, oferecido pela Mendelics, investiga por sequenciamento completo e avaliação do número de cópias (CNV) dos genes NF1 e NF2 associados às doenças, e o gene SPRED1, associado à Síndrome de Legius (NF1-like).
Todo exame genético de diagnóstico só é feito a partir de um pedido médico.
Se precisar solicitar um exame genético para seus pacientes, entre em contato conosco.
Revisão:
Neurofibromatose é uma doença genética que provoca o crescimento anormal de tecido nervoso pelo corpo, levando a formação de diversos tumores.
Há três tipos de neurofibromatose:
A neurofibromatose tipo 1 , também conhecida como doença de Von Recklinghausen, afeta cerca de 1 em cada 3 mil pessoas.
A neurofibromatose tipo 2 afeta cerca de 1 em cada 33 mil pessoas.
A Schwannomatose afeta cerca de 1 em cada 60 mil pessoas.
A neurofibromatose é causada por mutações em certos genes (como NF1, NF2, SMARCB1 e LZTR1) que afetam o padrão de formação e crescimento dos neurônios.
Os principais sintomas da neurofibromatose tipo 1 incluem manchas-café-com-leite, sardas, neurofibromas cutâneos, subcutâneos e plexiformes e alguns tipos de tumores.
Referências:
- Sanchez LD, Bui A, Klesse LJ. Targeted Therapies for the Neurofibromatoses. Cancers (Basel). 2021;13(23):6032. Published 2021 Nov 30. doi:10.3390/cancers13236032
- Babu NA, Rajesh E, Krupaa J, Gnananandar G. Genodermatoses. J Pharm Bioallied Sci. 2015;7(Suppl 1):S203-S206. doi:10.4103/0975-7406.155903
- Farschtschi S, Mautner VF, McLean ACL, Schulz A, Friedrich RE, Rosahl SK. The Neurofibromatoses. Dtsch Arztebl Int. 2020;117(20):354-360. doi:10.3238/arztebl.2020.0354
- Neurofibromatosis. Conference statement. National Institutes of Health Consensus Development Conference. Arch Neurol. 1988;45(5):575-578.
- Blakeley JO, Plotkin SR. Therapeutic advances for the tumors associated with neurofibromatosis type 1, type 2, and schwannomatosis. Neuro Oncol. 2016;18(5):624-638.
- NF1 Associated with More Cancer Types Than Previously Known. National Institutes of Health- NIH.
- About Neurofibromatosis, National Institutes of Health- NIH.
- Neurofibromatose tipo 1. Orphanet.
- Neurofibromatose tipo 2. Orphanet.
- Legius syndrome. Orphanet.
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