Em dezembro ocorre a Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer da Pele para conscientizar a população sobre os principais fatores de risco e formas de prevenção dessa doença, que soma mais de 220 mil novos casos e 4.575 mortes por ano no Brasil.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de pele é o mais incidente no mundo e entre brasileiros, somando cerca de um terço (33%) dos diagnósticos de câncer no país.

O que causa o câncer de pele?

Assim como outros tipos de câncer, o de pele é causado pelo acúmulo de mutações nas células que compõem esse tecido. Na maioria dos casos, esse acúmulo ocorre de forma gradativa ao longo da vida e em partes específicas do corpo (em células somáticas), formando tumores esporádicos.

Algumas pessoas possuem mutações herdadas que aumentam o risco de desenvolver alguns tipos de câncer de pele, principalmente o melanoma. Cerca de 10% dos casos melanoma são causados por variantes germinativas que atuam fortemente para o desenvolvimento da doença.

A doença é caracterizada pelo crescimento anormal das camadas que formam a pele: as células que compõem essas diferentes camadas passam a se multiplicar descontroladamente, formando um tumor. Os diferentes tipos de câncer de pele são classificados conforme a camada e tipo de célula afetada.

Recorta da pela mostrando as células que compõem cada camada.

Câncer de pele não melanoma

É o tipo mais comum de câncer de pele, somando cerca de 96% dos casos da doença.

O câncer de pele do tipo não melanoma costuma ser menos agressivo, com grandes chances de cura se diagnosticado precocemente, pois dificilmente se espalha para outras regiões do corpo, ou seja, raramente sofre metástase.

Metástase é a disseminação das células cancerosas através da corrente sanguínea ou dos vasos linfáticos para outras áreas do corpo.

Dentro desse grupo temos dois tipos principais:

  • Carcinoma basocelular (CBC): Se inicia nas células basais, localizadas na parte inferior da epiderme. Essas células gradativamente se deslocam até as camadas superiores da pele, se transformando em células escamosas para repor as que são descamadas.

Esse é o tipo mais comum, representando cerca de 76% dos casos.

  • Carcinoma espinocelular (CEC): Se inicia nas células escamosas, localizadas na camada mais superficial da epiderme. Essas células são constantemente descamadas e renovadas por células mais jovens que vêm da camada basal.

Esse tipo de câncer de pele representa cerca de 19% dos casos diagnosticados.

Melanoma

O câncer de pele tipo melanoma se inicia nos melanócitos, células localizadas na porção basal da epiderme. Os melanócitos são responsáveis pela produção da melanina, pigmento que colore a pele, olhos e cabelos.

Apesar de ser menos prevalente, representando 4% dos casos, o câncer de pele do tipo melanoma é o mais agressivo, sendo responsável por 42% de todas as mortes. 

O melanoma se desenvolve mais rapidamente e sofre metástase com mais frequência, podendo afetar outras partes do corpo. No entanto, quando diagnosticado precocemente, o câncer de pele melanoma também apresenta altas chances de cura.

Quais os sinais e sintomas:

Os sintomas e sinais podem variar conforme o tipo de câncer de pele, mas os principais são lesões, manchas e pintas atípicas que aumentam de tamanho e mudam de cor de forma rápida e podem causar coceira ou sensibilidade.

Manchas e pintas atípicas são aquelas com formato ou cor irregular ou que passam de 6 milímetros de diâmetro.

Principais sinais e sintomas do câncer de pele não melanoma:

  • Aparecimento de manchas, geralmente claras ou avermelhadas, que podem ser elevadas ou não, podendo causar coceira, sensibilidade, dor, escamamento ou sangramento.
  • Feridas que não cicatrizam em até quatro semanas.

Principais sinais e sintomas do câncer de pele melanoma: 

  • Aparecimento de pintas ou manchas pigmentadas (marrom escuro, pretas, ou vermelhas), que aumentam de tamanho rapidamente.
  • Pintas e manchas existentes que passam a aumentar de tamanho, mudar de cor ou textura.

A maioria das pintas, manchas e verrugas são benignas. Consulte um dermatologista para avaliar as suas.

Quais os fatores de risco para o câncer de pele?

O principal fator de risco é a exposição à radiação UV (ultravioleta), presente na radiação solar, principalmente para pessoas de pele clara ou que se expõe excessivamente ao sol entre às 10h e às 16h, quando a radiação natural do sol é mais intensa, especialmente em regiões tropicais.

Listagem de fatores de risco para o câncer de pele e os benefícios do uso de protetor solar na prevenção à doença.

Principais fatores de risco

A exposição à radiação UV é o principal fator de risco associado ao desenvolvimento de câncer de pele, tanto melanoma quanto não melanoma. Cerca de 90% dos casos de câncer de pele não melanoma e 86% dos casos de melanoma estão associados à exposição solar.

O uso diário de protetor solar com FPS (Fator de Proteção Solar) de pelo menos 15 diminui o risco de câncer de pele não melanoma em aproximadamente 40% e de melanoma em 50%.

  • Trabalho ao ar livre: pessoas que trabalham ao ar livre têm maior risco, devido aos longos períodos de tempo que se expõem ao sol. Estima-se que esses trabalhadores recebem de 6 a 8 vezes mais radiação que pessoas que trabalham em ambientes cobertos.
  • Bronzeamento artificial: câmaras de bronzeamento artificial emitem radiação UV para estimular o bronzeamento da pele, e estão associadas a cerca de 12% dos casos de câncer de pele. Em 2009, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu o uso dessas câmaras para fins estéticos devido à associação com a doença.
  • Cor da pele: pessoas de pele mais clara têm mais chances de desenvolver câncer de pele devido à exposição à radiação UV, pois produzem poucas quantidades de melanina, que tem um efeito protetor contra essa radiação.
  • Caso anterior de câncer de pele: pessoas que já tiveram a doença têm um aumento de cerca de 13% no risco de ter a doença novamente, em especial os casos não melanoma.
  • Número elevado de pintas e manchas atípicas: pessoas que apresentam mais de 10 pintas e manchas atípicas têm maiores chances (até 12 vezes maior) de desenvolver câncer de pele, especialmente do tipo melanoma.
  • Imunodeficiências: pessoas imunossuprimidas possuem maiores chances de desenvolver a doença. Estima-se que transplantados, que fazem uso de imunossupressores, têm 100 vezes mais chances de desenvolver carcinoma espinocelular.
  • Fumar: o fumo aumenta as chances de desenvolver câncer de pele na região da boca, principalmente o carcinoma espinocelular.
  • Exposição ao arsênio: o arsênio é um metal carcinogênico comum em minas de ouro e outros metais e minérios. Trabalhadores de mineradoras e pessoas que utilizam a água de rios próximos às minas podem se expor a esse composto, que aumenta as chances de desenvolver câncer de pele não melanoma.
  • Histórico familiar: pessoas com histórico familiar de câncer de pele têm maiores chances de desenvolver a doença, tanto por conta de fatores genéticos, como por hábitos ou ambiente em comum que predispõem a doença.

Predisposição genética ao câncer de pele

Enquanto os cânceres de pele do tipo não melanoma estão associados principalmente a fatores ambientais, como exposição à radiação solar, o fator genético tem um peso maior no câncer de pele tipo melanoma, muitas vezes afetando mais de um membro de uma mesma família.

Cerca de 10% de todos os cânceres de pele melanoma são causados por variantes germinativas

Cerca de 35% a 40% dos casos de melanoma familiar estão associados a mutações no gene CDKN2A. Esse gene é responsável por codificar uma proteína que, quando funciona normalmente, age como um supressor de tumor. Mutações no gene CDKN2A causam o mau funcionamento da proteína ou até impedem que a célula a produza.

Indivíduos portadores de mutações no gene CDKN2A têm risco aumentado de desenvolver melanoma: de 13% a 50% de chances de ter a doença até os 50 anos e de 58% a 91% de chances de ter a doença até os 80 anos. Mutações nesse gene também aumentam o risco de desenvolver cânceres gastrointestinais e de pâncreas.

A população geral tem um risco médio de 0,8% de desenvolver câncer de pele melanoma durante a vida.

Comparação da incidência de câncer de pele melanoma na população geral e na populações com predisposição genética.

Algumas síndromes podem aumentar a predisposição aos cânceres de pele do tipo não melanoma, como a Síndrome de Gorlin-Goltz (ou síndrome do nevo basocelular), causada por mutações no gene PTCH1, que já foi associada a riscos aumentados de carcinoma basocelular.

Pessoas acometidas por Xeroderma Pigmentoso (XP), uma doença rara causada por mutações nos genes DDB2, ERCC2, ERCC3, ERCC4, ERCC5, POLH, XPA e XPC, e que causa sensibilidade extrema à luz, têm cerca de 150 vezes mais chances de desenvolver carcinomas basocelular e espinocelular. O câncer de pele não melanoma é até 10.000 vezes mais frequente em indivíduos de até 20 anos com XP do que o esperado na população geral.

É importante enfatizar que portadores dessas mutações não irão, necessariamente, desenvolver câncer de pele, mas sim que possuem um risco aumentado de ter a doença ao longo da vida.

Testes genéticos para câncer de pele

Pessoas com histórico familiar de câncer de pele podem ser portadoras de mutações que aumentam o risco de desenvolver a doença, tanto do tipo não melanoma quanto do tipo melanoma.

Testes genéticos que investigam essas mutações auxiliam na avaliação do risco de desenvolver esses cânceres e são uma ferramenta importante para prevenção em famílias com histórico da doença.

Para a investigação de risco de câncer de pele, a Mendelics oferece o Painel Expandido de Melanoma e Câncer de Pele, que analisa genes associados aos diferentes tipos de câncer de pele, incluindo os genes CDKN2A, PTCH1, DDB2, ERCC2, ERCC3, ERCC4, ERCC5, POLH, XPA e XPC.

Se tiver dúvidas sobre nossos exames, entre em contato conosco pelo site, pelo e-mail contato@mendelics.com.br ou pelo telefone (11) 5096-6001.


Referências:

INCA – Câncer de pele não melanoma

INCA – Câner de pele melanoma

American Cancer Society

Estimated number of new cases in 2020, Brazil, both sexes, all ages (excl. NMSC). GLOBOCAN

Bishop DT, Demenais F, Goldstein AM, et al. Geographical variation in the penetrance of CDKN2A mutations for melanoma. J Natl Cancer Inst. 2002.

Informativo: Detecção precoce. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), Ministério da Saúde. Boletim nº.3, 2016. 

National Cancer Institute

Skin Cancer Foundation

Borba RP et al. Arsênio na água subterrânea em Ouro Preto e Mariana, Quadrilátero Ferrífero (MG). Revista Escola de Minas, vol. 57, no. 1, pp. 45–51. 2004.

Potrony M et al. Update in genetic susceptibility in melanoma. Annals of Translational Medicine, vol. 3, no. 15, pp. 5–5. 2015.

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