Gangliosidose é um conjunto de doenças de depósito lisossômico caracterizadas pela deficiência de diferentes proteínas necessárias para a quebra de alguns tipos de lipídios. Como consequência, ocorre o acúmulo desses lipídios nos lisossomos das células, causando danos especialmente nos neurônios, mas também em outros órgãos, como fígado e baço.
Como a gangliosidose é herdada
As gangliosidoses são doenças genéticas com padrão de herança autossômica recessiva, afetando igualmente pessoas do sexo feminino e masculino.
Tipos de gangliosidoses
Há dois grupos de gangliosidoses, a gangliosidose GM1 e a gangliosidose GM2, cada um deles com subtipos diferentes, entenda mais a seguir.
Gangliosidose GM1
A gangliosidose GM1 é uma doença causada por alterações no gene GLB1 que levam à deficiência da enzima beta-galactosidase e, consequentemente, ao acúmulo da substância gangliosídeo GM1 que causa a perda de neurônios cerebrais e da medula espinhal. Estima-se que afete entre 1 a cada 100 mil e 1 a cada 200 mil nascimentos.
Há 3 subtipos, que apresentam sinais e sintomas que podem se sobrepor, mas que variam em relação à idade em que a doença começa a se manifestar. Não há um consenso na literatura sobre a idade em que cada subtipo tem início, e alguns autores sugerem que os fenótipos são espectros da mesma doença.
Gangliosidose GM1 tipo 1 ou infantil
Os sintomas começam a se manifestar entre o nascimento e os primeiros 12 meses de vida, sendo que podem surgir algumas manifestações ainda na fase pré-natal. Esse é o subtipo mais severo e mais comum, que pode levar à surdez até o primeiro ano de vida e que em geral leva ao óbito aos 3 anos de idade devido a complicações cardíacas ou pneumonia.
As crianças com essa condição parecem saudáveis até apresentarem fraqueza muscular e atrasos e/ou regressão do desenvolvimento. Outros sinais e sintomas podem incluir: aumento de fígado e baço, irregularidades esqueléticas, rigidez articular, problemas na marcha, distensão abdominal, degeneração neurológica, convulsões, fraqueza muscular e mancha “vermelho-cereja” no fundo do olho.
Gangliosidose GM1 tipo 2 ou juvenil
Os sintomas se iniciam ainda na infância e podem incluir incapacidade de controlar movimentos, convulsões, demência e dificuldades na fala.
O curso clínico característico envolve o declínio neurológico progressivo, doença esquelética progressiva em alguns indivíduos e dificuldade progressiva na alimentação que aumenta o risco de aspiração. Entre outros sinais, podem estar a opacificação da córnea, aumento do fígado e baço e cardiomiopatia.
Gangliosidose GM1 tipo 3, forma adulta ou crônica
Os sintomas se iniciam entre o final da infância e os 30 anos de idade e podem incluir perda muscular, opacificação da córnea e distonia (contrações musculares involuntárias de longa duração que causam movimentos repetitivos e posições anormais). Na maioria dos pacientes o sistema esquelético pode ser afetado, e em alguns casos desenvolve-se cardiomiopatia. O comprometimento intelectual pode ocorrer com a progressão da doença e está relacionado ao prejuízo neurológico.
A maioria dos indivíduos com o tipo 3 possui ascendência japonesa.
Gangliosidose GM2
A gangliosidose GM2 é um grupo de doenças causadas por mutações genéticas que levam ao acúmulo do gangliosídeo GM2 nos neurônios. Estima-se que afete cerca de 1 a cada 150 mil nascimentos.
A enzima beta-hexosaminidase A é responsável pela degradação da substância chamada gangliosídeo GM2. A enzima é formada por duas subunidades: uma alfa, codificada pelo gene HEXA, e uma beta, codificada pelo gene HEXB. Porém, quando não está funcional ou não é produzida em quantidade suficiente, o gangliosídeo GM2 se acumula nos neurônios.
A apresentação do gangliosídeo GM2 para o sítio ativo da enzima beta-hexosaminidase A é feita pela proteína ativadora GM2A, codificada pelo gene GM2A. Variações patogênicas neste gene também impedem a degradação adequada do gangliosídeo GM2.

Há 3 doenças diferentes dentro das gangliosidoses GM2:
Tay-Sachs
A doença Tay-Sachs ocorre por variantes patogênicas no gene HEXA, que codifica a subunidade alfa da enzima beta-hexosaminidase A. Quanto menor o nível da enzima produzida, mais grave é o fenótipo da doença.
Os sintomas podem ter início em qualquer idade, sendo que a forma infantil é a mais severa, se manifestando nos primeiros meses de vida.
Entre os sinais e sintomas estão: regressão do desenvolvimento, convulsões, perda muscular e de funções neurológicas, problemas comportamentais, infecções respiratórias frequentes, desordens psiquiátricas, mancha “vermelho-cereja” no fundo do olho, entre outros.
A doença é mais prevalente em algumas etnias, como judeus ashkenazim.
Sandhoff
A doença Sandhoff ocorre por variantes patogênicas no gene HEXB, que codifica a subunidade beta da enzima beta-hexosaminidase A e é importante também para formar a enzima beta-hexosaminidase B.
Ela pode ser classificada de acordo com a idade de início dos sintomas, auxiliando no entendimento sobre as manifestações clínicas, velocidade de progressão e expectativa de vida.
Clinicamente, a doença é muito similar à Tay-Sachs, com a adição de que em Sandhoff os pacientes desenvolvem órgãos aumentados.
Variante AB
A Variante AB ocorre por variações patogênicas no gene GM2A, que codifica a proteína ativadora da enzima beta-hexosaminidase A.
Os sintomas se iniciam entre 4 e 12 meses, com fraqueza progressiva e diminuição do ritmo de desenvolvimento neuropsicomotor, além de regressão do desenvolvimento. Com a progressão da doença, há piora da deglutição e das convulsões, perda da audição e da visão e postura descerebrada. Em geral, a expectativa de vida é entre 2 e 3 anos.
Tratamento
Atualmente, não há tratamento específico para gangliosidose, apenas tratamento dos sintomas e de suporte, como controle da hidratação e nutrição, além de acompanhamento multidisciplinar.
Diagnóstico
O diagnóstico pode ser feito através de exames de sangue para identificar os níveis enzimáticos e também por exame molecular, para identificar com a variante patogênica específica causadora da doença, o que pode auxiliar no aconselhamento genético da família e para excluir possíveis resultados falso-positivos no exame de sangue.
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Em caso de dúvidas sobre nossos testes ou sobre as doenças analisadas, deixe sua pergunta nos comentários. Se desejar, entre em contato conosco pelo site ou pelo telefone (11) 5096-6001.
Revisão
Gangliosidose é um conjunto de doenças de depósito lisossômico caracterizadas pela deficiência de diferentes proteínas necessárias para a quebra de alguns tipos de lipídios. Como consequência, ocorre o acúmulo desses lipídios nos lisossomos das células, causando danos especialmente nos neurônios, mas também em outros órgãos, como fígado e baço.
A gangliosidose GM1 é uma doença causada por alterações no gene GLB1 que levam à deficiência da enzima beta-galactosidase e, consequentemente, ao acúmulo da substância gangliosídeo GM1 que causa a perda de neurônios cerebrais e da medula espinhal.
A gangliosidose GM2 é um grupo de doenças causadas por mutações genéticas que levam ao acúmulo do gangliosídeo GM2 nos neurônios.
Referências
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- GM1 gangliosidosis. Medline Plus. Acessado em 22/08/2023
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- Xiao C, Toro C, Tifft C. GM2 Activator Deficiency. 2022 Aug 25. In: Adam MP, Mirzaa GM, Pagon RA, et al., editors. GeneReviews® [Internet]. Seattle (WA): University of Washington, Seattle; 1993-2023.
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