Você conhece a deficiência de carnitina-palmitoil transferase 2?

A deficiência de carnitina-palmitoil transferase 2 (CPT II) é uma doença genética rara que faz parte do grupo de distúrbios de oxidação dos ácidos graxos (DOAG). A CPT II é em erro inato do metabolistmo causado por mutações no gene CPT2. 

 

Qual a causa da deficiência de CPT II?

Os ácidos graxos (gosduras) são uma importante fonte de energia para as células, principalmente em situações de grande necessidades energéticas, como durante exercício intenso ou jejum prolongado. 

A oxidação de ácidos graxos ocorre nas mitocôndrias, que são os centros produtores de energia nas células. Para entrar nas mitocôndrias, um grupo de gorduras chamado ácidos graxos de cadeia longa deve ligar-se a carnitina. Uma vez que esses ácidos graxos estão dentro das mitocôndrias, a enzima carnitina-palmitoil transferase 2 remove a carnitina e ocorre a oxidação dos ácidos graxos. 

Mutações no gene CPT2 causam  ausência ou redução de atividade desta enzima. Como resultado, a carnitina não é removida dos ácidos graxos de cadeia longa e esses ácidos graxos não são metabolizados para produzir energia. 

A produção reduzida de energia pode levar a algumas das características da doença, ​​como hipoglicemia hipocetótica, mialgia e fraqueza. Ácidos graxos e acilcarnitinas de cadeia longa (ácidos graxos ainda ligados à carnitina) também podem acumular-se nas células e danificar o fígado, o coração e os músculos. Esse acúmulo anormal causa os outros sinais e sintomas da doença.

Já foram identificadas mais de 70 variantes no gene CPT2 que causam CPT II, uma delas, a p.Ser113Leu, é identificada em cerca de 60% dos pacientes com a forma da miopática da doença. 

 

Quais são as formas da doença?

Existem três tipos principais de deficiência de CPT II:

Forma letal neonatal de CPT II

A forma letal neonatal da deficiência de CPT II torna-se aparente logo após o nascimento. Os bebês com essa forma da doença desenvolvem insuficiência respiratória, convulsões, insuficiência hepática, músculo cardíaco enfraquecido (cardiomiopatia) e batimento cardíaco irregular (arritmia). 

Os bebês afetados também apresentam baixo nível de açúcar no sangue (hipoglicemia) e um baixo nível de cetonas, que são produzidas durante a decomposição das gorduras e usadas para energia. Juntos, esses sinais são chamados de hipoglicemia hipocetótica. Em muitos casos, o cérebro e os rins também são estruturalmente anormais. Os bebês com essa forma da doença geralmente vivem apenas alguns dias a alguns meses.

Forma infantil hepatocardiomuscular de CPT II

A forma infantil hepatocardiomuscular de CPT II afeta o fígado, coração e músculos. Os sinais e sintomas geralmente aparecem já no primeiro ano de vida. Envolve episódios recorrentes de hipoglicemia hipocetótica, convulsões, aumento do fígado (hepatomegalia), cardiomiopatia e arritmia. Problemas relacionados a essa forma de deficiência de CPT II podem ser desencadeados por períodos de jejum ou por doenças como infecções virais. Pacientes com essa forma da doença correm risco de insuficiência hepática, danos no sistema nervoso, coma e morte súbita.

Forma miopática

A forma miopática é o tipo menos grave de deficiência de CPT II. Essa forma é caracterizada por episódios recorrentes de dor muscular (mialgia) e fraqueza e está associada à quebra do tecido muscular (rabdomiólise). A destruição do tecido muscular libera uma proteína chamada mioglobina, que é processada pelos rins e liberada na urina (mioglobinúria). A mioglobina faz com que a urina fique vermelha ou marrom. Essa proteína também pode danificar os rins, em alguns casos levando à insuficiência renal com risco de vida.

Episódios de mialgia e rabdomiólise podem ser desencadeados por exercício, estresse, exposição a temperaturas extremas, infecções ou jejum. O primeiro episódio geralmente ocorre durante a infância ou adolescência. A maioria das pessoas com a forma miopática da deficiência de CPT II não apresenta sinais ou sintomas do distúrbio entre os episódios.

Como a doença é herdada?

Para nascer com a CPT II, uma criança deve herdar duas cópias do gene defeituoso da CPT2, uma cópia da mãe e uma cópia do pai.  Os pais são apenas portadores da mutação e não manifestam sinais da doença. 

A CPT II é, portanto, uma doença genética com padrão de herança recessivo.  

 

Como é feito o diagnóstico da doença?

O diagnóstico precoce acompanhado do tratamento adequado é fundamental para  garantir a qualidade de vida do paciente. 

Diante da suspeita clínica, o diagnóstico é confirmado com a detecção da redução da atividade enzimática da carnitina-palmitoil transferase 2 no músculo ou pela identificação em um exame genético de variantes patogênicas nas duas cópias (materna e paterna) do gene CPT2. Nesse último caso o médico pode solicitar um exame genético de sequenciamento do gene CPT2, ou um exame de painel que inclua esse gene. 

A Mendelics oferece vários painéis que incluem o gene CPT2:  Painel de Miocardiopatias, Painel de Doenças Tratáveis, Painel de Erros Inatos do Metabolismo (Tratáveis) e Painel de Distrofias Musculares, Miopatias e Miastenia.  

 

Como é feito o tratamento da doença?

O tratamento da forma miopática da CPT II é baseado em uma dieta restritiva (rica em carboidrato e pobre em gordura) e em evitar situações de risco como jejum prolongados, e exercícios físicos intensos.

 

A CPT II é uma das doenças investigadas no Teste da Bochechinha

A doença pode ser identificada em recém-nascidos assintomáticos através de testes de triagem neonatal, porém a CPT II não faz parte do teste do pezinho básico oferecido pelo SUS. 

A doença é triada em alguns testes do pezinho ampliado, porém, caso o resultado seja positivo, o médico precisará confirmar o diagnóstico por meio do exame de sequenciamento do gene CPT2

A CPT II faz parte do Teste da Bochechinha. Recém-nascidos com alto risco de desenvolver a doença podem ser identificados nesse teste, antes mesmo de qualquer sinal clínico da doença aparecer


Referências:

https://ghr.nlm.nih.gov/condition/carnitine-palmitoyltransferase-ii-deficiency

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