A doença de Fabry é uma doença hereditária rara, multissistêmica e progressiva caracterizada pelo acúmulo de um tipo de gordura no organismo que leva a sintomas graves em vários órgãos, principalmente no coração, sistema nervoso e nos rins.
A doença se manifesta diferentemente em cada paciente e com gravidades variadas, o que torna o diagnóstico um desafio. Além disso, os exames comumente utilizados para o diagnóstico da doença falham em diagnosticar mulheres. Em geral, a doença de Fabry é sub-diagnosticada. Por isso, esforços para conscientização sobre a doença vêm se intensificando. Neste artigo, conheça o Sequencing First, uma nova abordagem de diagnóstico da doença de Fabry.
Doença de Fabry: Como é feito o diagnóstico?
Os sintomas da doença de Fabry e a sua gravidade vão depender da quantidade e do funcionamento da enzima alfa-galactosidase A (α-Gal A): uma enzima incapaz de funcionar ou com atividade baixa está associada ao desenvolvimento do tipo mais grave da doença, que se inicia na infância, enquanto a atividade moderada está ligada à forma de início tardio.
A doença de Fabry é causada por mutações no gene GLA, que produz a enzima α-Gal A, responsável por degradar moléculas de gordura encontradas nos lisossomos (compartimento celular responsável por digerir e reciclar moléculas). A falta ou redução da α-Gal A faz com que moléculas de gordura se acumulem nas células de todo o organismo, causando os sintomas multissistêmicos da doença. |
Por isso, o primeiro exame comumente utilizado para pesquisa da doença de Fabry é o bioquímico: dosagem da atividade da α-Gal A.
Contudo, para ambos os sexos, a confirmação do diagnóstico da doença é feita pelo exame genético capaz de detectar mutações no GLA, sendo a única maneira conclusiva de diagnosticar a doença de Fabry. Por isso, o teste genético é recomendado para qualquer indivíduo com diagnóstico clínico confirmado ou suspeito, ou histórico na família.
Entenda mais sobre a genética e os sinais e sintomas da doença de Fabry nesse artigo.
Sequencing First: Uma nova abordagem para o diagnóstico da Doença de Fabry
Sequencing First é uma abordagem inovadora para diagnóstico de doenças raras genéticas tratáveis, que consiste na análise da sequência de DNA como primeira abordagem diagnóstica, enquanto os exames bioquímicos ou funcionais são usados como testes complementares, após resultado genético positivo.
Com o Sequencing First é possível chegar ao diagnóstico mais rápido, antecipando o tratamento.
Por que Sequencing First?
Com o Sequencing First, o diagnóstico da Doença de Fabry é realizado primeiramente pelo teste genético (molecular) que analisa o gene GLA em busca de alterações associadas à doença. Caso sejam detectadas alterações patogênicas ou de significado incerto (seguindo protocolos internacionais de classificação de variantes genéticas), são realizados exames bioquímicos complementares.
Esse processo acelera o diagnóstico da doença pois contorna o tempo de espera dos resultados dos exames bioquímicos e a posterior confirmação, e também diminui a chance de resultados falso-positivos ou negativos causados por erros pré-analíticos e limitações das técnicas utilizadas.
Mesmo pacientes assintomáticos são beneficiados, pois muitas alterações, principalmente na função renal, ficam ocultas até se tornarem mais graves.
Etapas do Sequencing First – por dentro das tecnologias
1º Etapa: Sequenciamento do gene GLA
Tipo de amostra: swab bucal
Método: Sequenciamento de Nova Geração (NGS)
Essa tecnologia permite analisar bilhões de regiões do DNA simultaneamente e avaliar diferentes tipos de alterações genéticas, como SNPs, inserções e deleções de poucas bases até grandes trechos, como CNVs. Entenda todas as etapas do NGS nesse artigo.
2º Etapa: Exames bioquímicos complementares
A segunda etapa do Sequencing First acontece quando uma variante genética patogênica ou de significado incerto (VUS) é detectada, e depende do sexo do paciente (Figura 1).
Dosagem da enzima alfa-galactosidase A (α-GAL)
Tipo de amostra: Sangue em papel filtro (DBS – dried blood spots)
Método: Determinação fluorimétrica da atividade enzimática
No exame de dosagem da enzima α-GAL, o sangue é coletado, impregnado em papel filtro e, então, plasma e leucócitos são separados. A atividade enzimática é determinada por fluorimetria.
A fluorimetria é uma técnica analítica quantitativa, ou seja, que determina a quantidade ou a concentração de uma determinada substância em uma amostra medindo a intensidade de luz emitida por um fluoróforo. |
O diagnóstico da doença de Fabry é confirmado pela determinação de que a atividade leucocitária ou plasmática da enzima alfa Gal-A está abaixo da normalidade.
No caso das mulheres heterozigotas, a atividade enzimática de α-GAL pode estar normal devido à inativação do cromossomo X, por isso, o estudo genético é o padrão-ouro para o diagnóstico.
Dosagem do biomarcador globotriaosilesfingosina (Lyso-GB3)
Tipo de amostra: Sangue em papel filtro (DBS – dried blood spots)
Método: espectrometria de massa em tandem (MS/MS)
Nesse exame, a dosagem do biomarcador Lyso-GB3 é realizada na amostra de sangue através da técnica de espectrometria de massas em tandem (MS/MS).
A espectrometria de massas (MS) é uma técnica analítica qualitativa e quantitativa capaz de identificar a presença e a proporção de compostos bioquímicos em uma amostra.
Durante um exame de MS/MS, as moléculas de uma amostra passam por dois aparelhos de MS conectados para formar um único fluxo de análise, em sequência. Por isso o nome Espectrometria de Massas em Tandem. A MS/MS é utilizada para a detecção e dosagem de muitas biomoléculas, como proteínas, aminoácidos, e diferentes tipos de gordura. Com essa técnica é possível verificar se há uma concentração aumentada ou diminuída desses compostos no sangue e identificar algumas doenças metabólicas. |
O acúmulo lisossomal de glicoesfingolipídeos, principalmente globotriaosilceramida (Gb3) e sua forma desacilada, globotriaosilesfingosina (lyso-Gb3), resulta em insuficiência renal progressiva e em outros sintomas característicos da doença. Por isso, a presença elevada do biomarcador Lyso-GB3 no plasma é um forte preditor da doença de Fabry.
Em caso de dúvidas sobre a doença de Fabry ou sobre o Sequencing First, deixe uma pergunta nos comentários, entre em contato conosco pelo site ou pelo telefone (11) 5096-6001.
Referências
- Mehta A, Hughes DA. Fabry Disease. 2002 Aug 5 [Updated 2022 Jan 27]. In: Adam MP, Ardinger HH, Pagon RA, et al., editors. GeneReviews® [Internet]. Seattle (WA): University of Washington, Seattle; 1993-2022.
- Aerts JM, Groener JE, Kuiper S, et al. Elevated globotriaosylsphingosine is a hallmark of Fabry disease. Proc Natl Acad Sci U S A. 2008;105(8):2812-2817.
- Ortiz A, Germain DP, Desnick RJ, et al. Fabry disease revisited: Management and treatment recommendations for adult patients. Molecular Genetics and Metabolism. 2018;123(4):416-427.
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