Dia 25 de abril é o Dia do DNA, por isso no Mendelics Indica desse mês trouxemos O Gene Egoísta, escrito por Richard Dawkins. O livro trata da seleção natural de um ponto de vista um pouco diferente do que estamos habituados: a do próprio gene.
O Gene Egoísta
Quando falamos em seleção natural logo pensamos em Charles Darwin e seu livro A Origem das Espécies, e como ele aborda a evolução dos seres vivos de uma forma coletiva, a chamada seleção de grupos.
Na época, fazia pouco sentido pensar que a seleção natural atuava sobre o indivíduo, ou melhor dizendo, sobre seus genes, pois o DNA só seria descoberto 10 anos depois, em 1869, pelo bioquímico Johann Friedrich Miescher. E a estrutura e função do DNA foram elucidados somente décadas depois da sua descoberta.
O que é seleção naturalA seleção natural é o processo em que o ambiente (clima, disponibilidade de alimento, presença de predadores etc) seleciona os indivíduos que estão mais aptos para sobreviver e, ainda mais importante, se reproduzir. A seleção natural foi proposta independentemente por Charles Darwin e Alfred Wallace na década de 1850 e é hoje a teoria mais bem aceita de como ocorre a evolução das espécies. |
Com o passar do tempo ficou claro que a seleção natural atua sobre os fenótipos (características) e, portanto, seleciona os genes que os definem. Mas um aspecto da seleção de grupo ainda é bastante comum no ensino da biologia evolutiva: a ideia de que os indivíduos de uma determinada espécie agem de forma a preservá-la. Essa linha de raciocínio assume que os indivíduos, e os genes que os formam, têm um comportamento altruísta. E é desse ponto que O Gene Egoísta discorda.

Segundo Richard Dawkins, os genes – e seus portadores, chamados de máquinas de sobrevivência de genes em O Gene Egoísta – são egoístas. O raciocínio descrito no livro é o seguinte: os genes mais bem adaptados são aqueles que codificam características físicas, fisiológicas e de comportamento que favoreçam o indivíduo portador de forma que ele se reproduza mais facilmente, criando mais cópias desses genes.
Quando O Gene Egoísta foi publicado, o livro era considerado controverso e polêmico. Com o passar do tempo, e com uma melhor compreensão do papel dos genes no processo de adaptação dos seres vivos, as ideias trazidas no livro já não parecem tão estranhas.
Fica fácil entender o raciocínio de Dawkins usando um exemplo. Se um gene qualquer possui duas versões diferentes, sendo que uma delas causa uma doença grave e a outra não afeta negativamente o desenvolvimento do indivíduo, o primeiro caso pode levar o portador à morte antes mesmo que ele possa se reproduzir, eliminando aquela versão deletéria da população; já a cópia neutra do gene será passada para as próximas gerações e se tornará muito mais frequente.
Nesse exemplo, pode-se dizer que a seleção natural agiu de forma a eliminar uma doença e preservar a espécie (seleção de grupo), mas existe uma outra interpretação. Na linha da seleção individual, esse exemplo mostra que genes que não conseguem se reproduzir, são eliminados e os que conseguem se multiplicam e prevalecem. Segundo Dawkins, os seres vivos são como máquinas criadas pelos genes para facilitar a sua reprodução e, por isso, a seleção atua sobre eles.
Independente de qual interpretação você prefira usar, o importante é que ambas levam ao mesmo resultado. O que Richard Dawkins fez em O Gene Egoísta foi trazer uma nova perspectiva para o entendimento de como a seleção natural atua nos seres vivos. E ele o fez de uma forma relativamente simples, usando exemplos muito interessantes.
O que os memes têm a ver com isso?Em O Gene Egoísta, Richard Dawkins não se restringe a explicar a evolução genética, mas tenta também explicar a evolução cultural. Segundo ele, assim como o gene é a unidade de informação genética que se replica nas gerações futuras, o meme seria a unidade de informação cultural que é passada de cérebro a cérebro ao longo das gerações. E quanto mais bem sucedido o meme, mais ele se espalha na cultura da população. Claro que quando Dawkins apresentou o termo “meme” pela primeira vez, ele não esperava que tomasse as proporções que vemos hoje na cultura moderna, virtual. Em 1976, quando escreveu o livro, o termo se referia a qualquer ideia, melodia, slogan, moda ou mania que pode ser ensinada a outras pessoas. Dawkins hoje admite que a internet é um veículo ideal para a disseminação de memes. O termo “meme” é uma abreviação feita por Dawkins da palavra de origem grega “Mimeme”, que significa “imitação”. |
Dia do DNA
O Dia do DNA é celebrado mundialmente no dia 25 de abril para relembrar a descoberta da estrutura da molécula de DNA em dupla hélice em 1953 e a publicação do sequenciamento do primeiro genoma humano em 2003.
Esses dois feitos foram indispensáveis para os milhares de estudos que descreveram o funcionamento dos genes e seu papel, não só no processo de adaptação e seleção natural, mas também no funcionamento dos organismos e no desenvolvimento de doenças. Hoje esse conhecimento já é usado inclusive no desenvolvimento de terapias genéticas para doenças graves.
Celebre o dia do DNA e conheça mais sobre como os genes atuam no desenvolvimento e adaptação das espécies no livro O Gene Egoísta de Richard Dawkins.
Referências
Dawkins, R. (2007). O gene egoísta.
Aranha, C. O outro evolucionista. Pesquisa FAPESP. Acesso em 19 de abril de 2022.
The Guardian. (2013, June 28). Richard Dawkins on memes – Cannes Lions 2013 [Interview]. In YouTube.
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