O que é a Deficiência de Biotinidase?

A deficiência de biotinidase (DB) é uma doença genética causada pela falta da enzima responsável pelo metabolismo da biotina. Por isso, a doença faz parte do grupo de erros inatos do metabolismo. Se não tratada, a DB pode se manifestar nos primeiros meses de vida (entre o segundo e quinto mês), mais tarde na infância ou até mesmo na adolescência.

A doença é rara, com frequência estimada de 1 a cada 60.000 nascimentos.

Existem duas formas da doença, classificadas de acordo com a atividade residual da enzima: a deficiência profunda de biotinidase ocorre quando a atividade da biotinidase é reduzida para menos de 10% do normal, e a deficiência parcial de biotinidase ocorre quando a atividade da biotinidase é reduzida para entre 10% e 30% do normal. 

A forma mais grave é a deficiência profunda de biotinidase, que pode causar convulsões, atraso no desenvolvimento, tônus ​​muscular fraco (hipotonia), problemas respiratórios (hiperventilação e apnéia), perda de audição e visão, problemas de movimento e equilíbrio (ataxia), erupções cutâneas, alopecia (perda de cabelo) e uma infecção fúngica chamada candidíase

A forma mais branda é a deficiência parcial de biotinidase: sem tratamento, as crianças afetadas podem apresentar hipotonia, erupções cutâneas e alopecia. Os sintomas podem aparecer apenas durante período de estresse, como por exemplo quando ocorrem infecções graves ou diante de períodos de jejum. 

Quer saber mais sobre a DB e a importância dos exames genéticos para o diagnóstico e tratamento da doença? Leia mais abaixo.

Qual a causa da Deficiência de Biotinidase?

A deficiência de biotinidase é causada por alterações no gene BTD. Esse gene fornece instruções para produzir uma enzima chamada biotinidase. Essa enzima recicla a biotina, uma vitamina do complexo B encontrada em alimentos como fígado, gemas de ovos e leite.  

Essa vitamina é essencial para o organismo, e está envolvida em importantes processos metabólicos como a gliconeogênese, a síntese de ácidos graxos e o catabolismo de vários aminoácidos. A biotinidase remove a biotina que está ligada às proteínas nos alimentos, deixando a vitamina em seu estado livre (não ligado). 

Alterações no gene BTD reduzem ou eliminam a atividade da biotinidase. 

O resultado é a falta da biotina livre, que prejudica a atividade das enzimas carboxilases dependentes de biotina, levando a um acúmulo de compostos tóxicos ao organismo. Se essa condição não for tratada imediatamente, esse acúmulo causa os sintomas típicos da DB. 

Já foram identificadas mais de 200 alterações no BTD que causam a doença. 

Como a Deficiência de Biotinidase é herdada?

A DB é herdada de maneira autossômica recessiva. Isso significa que, para ter DB uma pessoa deve ter uma alteração em ambas as cópias do gene BTD em cada célula. 

Pessoas com DB herdam uma cópia alterada do gene do pai e da mãe. Os pais só possuem uma cópia do gene alterado e são chamados de portadores (Figura 1).

Portadores de uma doença autossômica recessiva, como a  DB, normalmente não apresentam sinais ou sintomas, mas precisam ser identificados para conhecerem os riscos de terem filhos com DB.

Heredograma representando o padrão de herança autossômico recessivo
Figura 1: Ilustração do padrão de herança autossômico recessivo

Como é feito o tratamento da doença?

O tratamento da doença, que deve sempre ter orientação médica, consiste na suplementação oral de biotina livre

O tratamento precoce, com início antes dos sintomas, assegura ao bebê uma vida normal. Caso a pessoa já tenha sintomas da doença, o tratamento pode melhorá-los.

Porém, algumas manifestações da doença são irreversíveis, como atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, e problemas visuais e auditivos. Por isso é recomendado que a doença seja identificada ainda no período neonatal. 

Como é feito o diagnóstico da doença?

A DB é faz parte do Programa Nacional de Triagem Neonatal do SUS, o Teste do Pezinho. Bebês com testes de triagem alterados, identificados no Teste do Pezinho, precisam ser submetidos a um exame confirmatório: o teste quantitativo da atividade de biotinidase ou o teste genético do BTD.

O teste quantitativo da atividade da biotinidase mede atividade enzimática no soro do bebê, porém, atraso na entrega da amostra, armazenamento inadequado da amostra e outros problemas técnicos podem ocasionar degradação da enzima e, consequentemente, resultados falso-negativos ou falsos-positivos. 

O teste genético analisa o DNA do paciente para identificar alterações no gene BTD que podem causar redução na atividade da enzima. Esse é o teste mais preciso para identificar a doença, tanto em bebês assintomáticos quanto em pacientes de qualquer idade que tenham algum sintoma da doença.  

Além disso, o teste genético auxilia o aconselhamento genético da família, planejamento de futuros filhos dos pais e da criança. 

Diagnóstico genético e a Mendelics

Quando a criança (ou pessoa de qualquer idade) tem algum sintoma de DB ou o recém-nascido teve o resultado do Teste do Pezinho positivo para DB, recomenda-se realizar um exame genético de diagnóstico para confirmar a suspeita.

Para o diagnóstico de deficiência de biotinidase a Mendelics oferece vários exames que analisam o gene BTD, incluindo o Painel de Doenças Tratáveis

É importante ressaltar que exames de diagnóstico só podem ser realizando mediante solicitação e acompanhamento médico. Por isso converse com o seu médico!

A DB também é uma das mais 310 doenças do Teste da Bochechinha, o mais completo teste de triagem neonatal realizado no Brasil.  Bebês com alto risco de desenvolver DB, identificadas no Teste da Bochechinha, podem iniciar precocemente o acompanhamento médico e tratamento da DB.

Quer saber mais sobre o Deficiência de biotinidase e o Teste da Bochechinha? Deixe sua pergunta nos comentários abaixo ou entre em contato com a nossa equipe pelo telefone (11) 5096-6001 ou através do nosso site.


Referências

Wolf B. Biotinidase Deficiency. 2000 Mar 24 [Updated 2016 Jun 9]. In: Adam MP, Ardinger HH, Pagon RA, et al., editors. GeneReviews® [Internet]. Seattle (WA): University of Washington, Seattle; 1993-2020. Available from : https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK1322/;

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/triagem_neonatal_biologica_manual_tecnico.pdf

https://ghr.nlm.nih.gov/condition/biotinidase-deficiency#diagnosis

https://rarediseases.info.nih.gov/diseases/894/biotinidase-deficiency

https://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/programa-nacional-da-triagem-neonatal/deficiencia-de-biotinidase

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK1322/

Strovel, E., Cowan, T., Scott, A. et al. Laboratory diagnosis of biotinidase deficiency, 2017 update: a technical standard and guideline of the American College of Medical Genetics and Genomics. Genet Med 19, 1079 (2017).

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