O que é Hemocromatose?

Recentemente (18/06), o Youtuber Felipe Neto publicou em suas redes sociais que havia sido diagnosticado com hemocromatose incompleta heterozigótica. Você conhece essa doença?

Hemocromatose se refere a doenças caracterizadas pelo acúmulo de ferro em vários órgãos como o fígado, coração e pâncreas. Os altos níveis de ferro danificam esses órgãos levando ao aparecimento de vários sintomas diferentes.

A forma mais comum de hemocromatose, também conhecida como hemocromatose clássica ou hemocromatose tipo I, afeta cerca de 1 a cada 100 pessoas mundialmente, em especial no norte da Europa.

Quais os sinais e sintomas de Hemocromatose?

O aumento dos níveis de ferro ocorre gradativamente por toda a vida, e os sintomas geralmente surgem entre os 40 e 60 anos de idade, sendo que as mulheres começam a ter sintomas, em média, dez anos mais tarde que os homens.

Pacientes com hemocromatose podem apresentar uma ampla gama de sintomas, pois o ferro se acumula e danifica diversos órgãos. Os sintomas mais comuns são:

  • Fadiga
  • Inflamação e dor nas juntas, principalmente nas mãos e joelhos
  • Dor abdominal
  • Perda de peso
  • Mudança da coloração da pele para tons “metálicos” (acinzentado ou cobre)

Se não tratada, a doença pode levar a sintomas mais graves como cirrose, diabetes e falência cardíaca.

Quais as causas da hemocromatose?

A hemocromatose clássica é causada por alterações no gene HFE, responsável por codificar a proteína que atua no controle dos níveis de ferro no organismo. Nos pacientes com hemocromatose, essa proteína não funciona corretamente e o corpo absorve mais ferro que o necessário.

As mutações mais comuns do gene HFE são conhecidas como C282Y e H63D. Cerca de 90% dos casos de hemocromatose são resultantes da mutação C282Y.

A hemocromatose tipo 2, também conhecida como hemocromatose juvenil, se manifesta por volta dos 20 anos de idade e é causada por alterações nos genes HJV e HAMP.

A hemocromatose tipo 3 geralmente se manifesta um pouco mais tarde que a do tipo 2, mais ainda antes dos 30 anos, na maioria dos casos. É causada por alterações no gene TFR2.

A hemocromatose tipo 4, também conhecida como doença da ferroportina, se manifesta como a forma clássica, após os 40 anos, e é causada por alterações no gene SLC40A1.

Como a hemocromatose é herdada?

A hemocromatose é uma doença de padrão autossômico recessivo, o que significa que é necessário herdar cópias alteradas do gene HFE de ambos os pais para desenvolver a doença.

Quando alguém possui uma cópia saudável e uma cópia alterada de um gene, dizemos que essa pessoa é heterozigota para a alteração nesse gene. Esse é o caso do Felipe Neto.

O Youtuber foi diagnosticado com hemocromatose incompleta heterozigótica. Isso significa que ele tem uma cópia alterada.

Pessoas que herdam somente uma cópia alterada desse gene são consideradas portadoras e podem não desenvolver os sintomas da doença. Os portadores têm risco aumentado de ter filhos com a doença.

Figura representando graficamente como se dá a herança recessiva
Figura 1. Padrão de herança recessiva

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico inicial é feito pela dosagem de ferritina, um exame bioquímico que mede a concentração de ferro disponível no organismo. Caso sejam detectados níveis altos de ferritina, outros exames devem ser feitos para confirmar o diagnóstico.

O exame genético pode ser feito com esse propósito e traz informações mais compreensivas sobre o quadro do paciente, pois identifica quais as mutações que estão causando a doença. Essa informação é muito importante, pois mutações diferentes causam quadros com diferentes severidades.

Um diagnóstico precoce é sempre importante, pois permite que o tratamento seja iniciado o mais cedo possível e evita as consequências mais graves da doença. Isso vale para qualquer doença. 

Quais são os tratamentos?

Por ser uma doença genética, não é possível curar a hemocromatose hereditária, mas é possível controlar a doença para evitar os sintomas.

O tratamento vai depender da severidade de cada caso. O objetivo é baixar os níveis de ferro e controlar para que eles permaneçam dentro de intervalos saudáveis.

Para isso, várias medidas podem ser tomadas, desde uma dieta controlada, com pouca ingestão de alimentos ricos em ferro, como carnes e grãos, até o uso de medicamentos e sangria, que funciona como uma doação de sangue, mas esse sangue é descartado.

Pacientes com casos mais graves, que já desenvolveram outras complicações como diabetes e cirrose, precisam de tratamentos específicos para cuidar desses outros problemas.

Mantendo os níveis de ferro dentro de um intervalo saudável, sendo por dieta, terapias medicamentosas ou sangria, o paciente não desenvolve os sintomas e tem uma vida normal.

Diagnóstico genético e a Mendelics

É importante ressaltar que exames de diagnóstico só podem ser realizados mediante solicitação e acompanhamento médico. Por isso converse com o seu médico!

Na Mendelics possuímos o Painel de Hemocromatoses, que analisa o gene HFE, e as mutações C282Y e H63D, além de outros quatro genes (HAMP, HJV, SLC40A1, TFR2), que podem causar os outros tipos de hemocromatose.

Quer saber mais sobre testes genéticos para diagnóstico das hemocromatoses? Deixe sua pergunta nos comentários abaixo ou entre em contato com a nossa equipe pelo telefone (11) 5096-6001 ou através do nosso site.


Referências

8 respostas para “Você conhece a hemocromatose, a doença do Felipe Neto?

  1. Avatar de Valéria
    Valéria

    Será que o tratamento com restrição de ferro na dieta realmente tem impacto na evolução da hemocromatose hereditária?

    1. Avatar de Nathália Taniguti
      Nathália Taniguti

      Olá, Valéria!
      Como explicado pelo post, o tratamento vai depender da severidade de cada caso. O objetivo é baixar os níveis de ferro e controlar para que eles permaneçam dentro de intervalos saudáveis. Uma das possibilidades é adotar uma dieta controlada, com pouca ingestão de alimentos ricos em ferro. Se quiser saber mais sobre o assunto, recomendamos o seguinte material guia: Kowdley, K.V., Brown, K.E., Ahn, J., and Sundaram, V. (2019). ACG clinical guideline: hereditary hemochromatosis. Am. J. Gastroenterol. 114, 1202–1218.
      Reforçamos que o tratamento deve sempre ser recomendado e acompanhado pelo especialista, de acordo com as necessidades e sintomas/sinais de cada paciente.
      Estamos à disposição!

  2. Avatar de Thiago Lemos
    Thiago Lemos

    mutações heterozigotas C282Y e H63D são mais perigosas que as homozigotas?

    1. Avatar de Nathália Taniguti
      Nathália Taniguti

      Olá, Thiago!

      A maior parte das pessoas que desenvolve hemocromatose clássica herdou duas variantes iguais no gene HFE: a variante C282Y. Já pessoas com uma variante C282Y e uma variante H63D no gene HFE (heterozigoto composto) também podem desenvolver hemocromatose clássica. Já aqueles que apresentam somente uma cópia alterada de um dos genes relacionados à doença são considerados portadores e podem não desenvolver os sintomas.
      Porém, vale ressaltar que é difícil estabelecer qual combinação de variantes vai provocar mais sintomas ou sintomas mais graves, já que existe uma penetrância e expressividade variada entre as mutações, e fatores ambientais e fisiológicos também influenciam no desenvolvimento e na progressão da doença.
      Se quiser saber mais sobre a hemocromatose, aqui temos algumas informações atualizadas e importantes.
      Estamos à disposição.

  3. Avatar de Sônia Scaff
    Sônia Scaff

    Excelente explicação, principalmente no que diz respeito à uma medicina preventiva.

    1. Avatar de Juliana Gomes
      Juliana Gomes

      Olá, Sônia!
      Agradecemos seu comentário.
      Ficamos felizes em contribuir com o entendimento desse tópico.
      Continue acompanhando nosso blog!

  4. Avatar de Karleane
    Karleane

    Uma criança de 10a com a mutação c282y heterozigoto confirmada, ferritina alta, ferro sérico muito abaixo da referência (15) com quadro de anemia, como isso é possível? E como combater essa anemia se tem excesso de ferritina???

    1. Avatar de Juliana Gomes
      Juliana Gomes

      Olá, Karleane

      A hemocromatose é uma doença autossômica recessiva, ou seja, são necessárias duas cópias alteradas do gene para desenvolver os sintomas. Em geral, alguns heterozigotos para o gene HFE podem apresentar valores alterados de ferritina e ferro, mas não desenvolvem a doença.

      Recomendamos que procure o pediatra da criança ou um hematologista pediátrico para entender melhor os valores encontrados de ferritina e ferro e qual o melhor tratamento para ela.

      Estamos à disposição.

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