A adrenoleucodistrofia é uma doença genética rara, do grupo das leucodistrofias, cuja prevalência na população em geral é estimada em 1 caso a cada 10 mil – 17 mil indivíduos. Conheça mais sobre a doença, suas causas, importância do diagnóstico e o filme que a aborda: Óleo de Lorenzo.

O filme Óleo de Lorenzo

Lançado em 1992, o filme ‘Óleo de Lorenzo’ retrata a jornada de um pai e uma mãe na busca por um tratamento eficaz para a doença do seu filho.

O filme, que é baseado em uma história real, retrata a dor e angústia de Michaela (Susan Sarandon) e Augusto (Nicki Nolte) ao descobrirem que seu filho Lorenzo (Zack O’Malley Greenburg), de 6 anos, possui uma doença genética grave e progressiva chamada adrenoleucodistrofia, com um prognóstico de sobrevida de até 2 anos.

Sem aceitar o triste diagnóstico do filho e a falta de um tratamento eficaz, ao mesmo tempo que assistem os sintomas do filho piorarem, os pais decidem lutar para encontrar uma cura para a doença.

Mesmo sendo leigos e sem qualquer formação acadêmica no assunto, Michaela e Augusto passaram a dedicar os seus dias na busca por um tratamento para a adrenoleucodistrofia. Leram livros, buscaram médicos e outros profissionais da área, indústrias farmacêuticas, conversaram com professores de universidades e até organizaram um simpósio internacional que uniu especialistas do mundo inteiro para discutir um possível tratamento para a doença. 

No filme, todo o esforço se recompensou ao conseguirem produzir uma formulação contendo uma mistura de ácidos graxos (derivados dos ácidos oleico e erúcico) para o tratamento da doença. Introduzindo o óleo na dieta do filho, eles observaram que os sintomas pararam de progredir e conseguiram controlar o quadro da doença. Logo, o óleo, chamado óleo de Lorenzo, passou a ser usado para tratamento de outros pacientes.

O filme retrata de forma ficcional a história de um paciente com a adrenoleucodistrofia. Todo tratamento deve ser recomendado e acompanhado por um médico.

A história real por trás do filme Óleo de Lorenzo

Apesar de Michaela e Augusto acreditarem que o óleo salvou a vida de Lorenzo, a eficácia do tratamento utilizando o óleo, no entanto, só foi comprovada em pacientes tratados precocemente, ou seja, em pacientes tratados antes do início dos sintomas neurológicos.

A descoberta que esse e outros tratamentos desenvolvidos posteriormente poderiam ser eficazes quando a doença é diagnosticada precocemente motivou a inclusão da adrenoleucodistrofia em testes de triagem neonatal. A triagem neonatal é realizada em várias etapas, que incluem testes bioquímicos e a confirmação pelo teste genético, por exemplo.

Nos Estados Unidos, desde 2013 o Estado de Nova Iorque possui uma lei de triagem neonatal da doença e, desde 2016, o governo federal americano recomenda a inclusão da doença em testes de triagem neonatal em todo o país. Na Holanda, a partir de outubro de 2023, a adrenoleucodistrofia passou a fazer parte da triagem neonatal dos recém-nascidos do sexo masculino*. 

*A adrenoleucodistrofia é mais comum em homens do que mulheres.

O tratamento da adrenoleucodistrofia é realizado com base nos sintomas do paciente, por isso varia em cada caso e inclui acompanhamento médico e o envolvimento de uma equipe multidisciplinar. Para pacientes meninos, o transplante de células-tronco hematopoéticas, por exemplo, têm se mostrado eficaz em alguns casos específicos.

Outros estudos clínicos, utilizando terapia gênica e o óleo de Lorenzo estão sendo conduzidos para encontrar um tratamento eficaz e personalizado. 

Ações como o filme são muito importantes para divulgar e conscientizar sobre a adrenoleucodistrofia para um maior número de pessoas. A realização do filme Óleo de Lorenzo permitiu a criação da fundação Myelin Project, que atua, até hoje, em prol ao estudo de doenças desmielinizantes, como a adrenoleucodistrofia.

O que é a adrenoleucodistrofia (ALD)?

A adrenoleucodistrofia é uma doença genética rara que faz parte do conjunto de doenças chamadas leucodistrofias, causadas por uma deficiência na bainha de mielina, membrana protetora e isolante que envolve os neurônios e permite a condução dos sinais nervosos.

Existem diferentes formas de adrenoleucodistrofia, que são classificadas conforme a idade de início e gravidade dos sintomas. Os sinais e sintomas são variáveis podendo iniciar na primeira infância ou só na vida adulta. A progressão da doença e órgãos afetados também podem variar. 

A adrenoleucodistrofia possui três apresentações mais comuns:

  • Adrenoleucodistrofia cerebral: início na infância. Sintomas neurológicos, semelhantes ao transtorno de déficit de atenção ou hiperatividade, perda progressiva da cognição, mudança no comportamento, alteração da visão, da audição e das funções motoras, entre outros.
  • Doença de Addison: início na infância, mas também pode se manifestar mais tardiamente. Insuficiência adrenal, que leva a  sintomas como: fadiga crônica, fraqueza muscular, perda de apetite, perda de peso, dor abdominal, vômitos, entre outros.
  • Mielopatia: início na vida adulta (em torno dos 20 anos). Os sintomas são progressivos e afetam os nervos da medula espinhal e incluem rigidez progressiva, fraqueza das pernas, distúrbios do esfíncter, sexuais e calvície.

Qual a causa da adrenoleucodistrofia?

A adrenoleucodistrofia é causada por alterações (mutações) no gene ABCD1, responsável por produzir a proteína ALD (ALDP), que atua no transporte de moléculas específicas de gordura (ácidos graxos de cadeia muito longa) até as estruturas celulares chamadas de peroxissomos. Esse transporte é fundamental para que os ácidos graxos de cadeia muito longa sejam metabolizados. 

Quando a proteína ALD não funciona adequadamente, esse transporte não ocorre e, consequentemente, os ácidos graxos de cadeia muito longa não são metabolizados, se acumulando em vários tecidos e partes do organismo.

O tecido endócrino, incluindo as glândulas supra-renais e os testículos, o cérebro e a medula espinhal e os nervos periféricos são os mais afetados. Contudo, os mecanismos biológicos pelos quais o acúmulo anormal de ácidos graxos de cadeia muito longa afeta os tecidos e leva aos sintomas característicos da doença, ainda não estão bem esclarecidos.

Como a adrenoleucodistrofia é herdada?

A adrenoleucodistrofia é uma doença genética com padrão de herança recessiva ligada ao cromossomo X. Para desenvolvê-la é preciso ter uma cópia do gene ABCD1 alterada no caso de homens, e duas cópias alteradas no caso das mulheres. 

Heredograma representando o padrão de herança recessiva ligado ao cromossomo X

Na maioria dos casos, a alteração é herdada, mas em algumas situações (cerca de 5%) ocorre uma mutação nova ou de novo no gene ABCD1.

Por que a adrenoleucodistrofia é mais comum em homens?

Os genes estão em pares, sendo uma cópia herdada do pai e outra da mãe. Contudo, os cromossomos sexuais são diferentes. Os homens têm apenas um cromossomo X (herdado da mãe) e um cromossomo Y (herdado do pai). Já as mulheres herdam dois cromossomos X, um do pai e outro da mãe.

Como o gene ABCD1 está localizado no cromossomo X, mulheres que possuem uma cópia do gene ABCD1 alterada, chamadas de portadoras, geralmente não apresentam os sintomas relacionados à doença, já que a cópia funcional do gene compensa a cópia defeituosa.  

No entanto, mulheres portadoras podem transmitir a cópia alterada para um filho homem, que terá adrenoleucodistrofia, e para filhas mulheres, que também serão portadoras.

Já homens que herdam a alteração no gene ABCD1 terão adrenoleucodistrofia porque não possuem um outro cromossomo X com uma cópia do gene que funcione. Homens com a doença sempre irão transmitir a cópia alterada para as filhas mulheres e nunca irão transmitir para os filhos homens.

Por esse motivo, a adrenoleucodistrofia é mais comum em homens que, em geral, desenvolvem sintomas mais sérios do que as mulheres. 

Como é feito o diagnóstico da doença?

O diagnóstico da adrenoleucodistrofia é baseado nos sintomas do paciente, histórico familiar e resultado de diversos exames. 

O diagnóstico da adrenoleucodistrofia pode ser realizado pela dosagem dos níveis de ácidos graxos de cadeia muito longa no sangue. Porém, a dosagem plasmática pode apresentar resultados inconclusivos e só é precisa para o diagnóstico em homens. Cerca de 20% das mulheres com adrenoleucodistrofia podem apresentar resultado falso negativo com níveis normais dos ácidos graxos.

Para confirmar o diagnóstico de adrenoleucodistrofia é preciso detectar a alteração no gene ABCD1 no DNA por meio do exame genético. Essa é a abordagem mais precisa para identificar a doença, tanto em indivíduos assintomáticos quanto em pacientes de qualquer idade que tenham algum sintoma da doença.  

Além disso, o exame genético auxilia o aconselhamento genético da família, planejamento de futuros filhos dos pais e da criança.

Diagnóstico genético da adrenoleucodistrofia e a Mendelics

Quando a criança (ou pessoa de qualquer idade) tem algum sintoma de adrenoleucodistrofia recomenda-se realizar um exame genético de diagnóstico para confirmar a suspeita médica.

Para o diagnóstico de adrenoleucodistrofia a Mendelics oferece vários exames que analisam o gene ABCD1, incluindo o Painel de Doenças Tratáveis e o Painel de Leucodistrofias

Todo exame de diagnóstico genético só pode ser realizado mediante pedido médico. 

Identificação da adrenoleucodistrofia em recém-nascidos assintomáticos

Por ter sinais e sintomas muito variáveis com início e gravidade que podem começar desde a infância até a vida adulta, o diagnóstico da adrenoleucodistrofia pode ocorrer em diferentes fases da vida. Contudo, os estudos já realizados demonstraram a importância da triagem neonatal e do diagnóstico ser realizado antes do início dos sintomas.

No Brasil, a doença não faz parte do Programa Nacional de Triagem Neonatal, o Teste do Pezinho, mas pode ser triada em recém-nascidos assintomáticos pelo Teste da Bochechinha.

O Teste da Bochechinha é o primeiro teste de triagem neonatal genética realizado no Brasil. Bebês com alto risco de desenvolver adrenoleucodistrofia identificados no Teste da Bochechinha, podem iniciar precocemente o acompanhamento médico e o tratamento da doença.

Quanto antes o diagnóstico, melhor o tratamento e a qualidade de vida do paciente.

Tem alguma dúvida sobre a adrenoleucodistrofia ou sobre nossos exames genéticos?

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Revisão

O que é adrenoleucodistrofia?

A adrenoleucodistrofia é uma doença genética rara que faz parte do conjunto de doenças chamadas leucodistrofias, causadas por uma deficiência na bainha de mielina, membrana protetora e isolante que envolve os neurônios e permite a condução dos sinais nervosos.

Qual a causa da adrenoleucodistrofia?

A adrenoleucodistrofia é causada por mutações no gene ABCD1, responsável por produzir a proteína ALD (ALDP), que atua no transporte de moléculas específicas de gordura até as estruturas celulares chamadas de peroxissomos. Esse transporte é fundamental para que os ácidos graxos de cadeia muito longa sejam metabolizados.

Quais os sintomas da adrenoleucodistrofia?

Os sinais e sintomas da adrenoleucodistrofia, assim como sua progressão, são variáveis podendo iniciar na primeira infância ou só na vida adulta. Dentre esses estão: sintomas neurológicos, perda da cognição, da audição e das funções motoras, insuficiência adrenal, e rigidez progressiva. 

O que é abordado no filme Óleo de Lorenzo?

Lançado em 1992, o filme Óleo de Lorenzo retrata a jornada de um pai e uma mãe na busca por um tratamento eficaz para a doença do seu filho, diagnosticado com uma rara condição genética: a adrenoleucodistrofia. O tratamento descoberto pelos pais foi chamado de óleo de Lorenzo.


Referências

  1. Miller G, Enright N. Lorenzo’s Oil. IMDb. Acessado em: 02/01/2024.
  2. Adrenoleukodystrophy . NORD (National Organization for Rare Disorders). Acessado em: 02/01/2024.
  3. Odone C. Lorenzo Odone. The Guardian. Acessado em: 02/01/2024.
  4. Engelen M, Kemp S, de Visser M, et al. X-linked adrenoleukodystrophy (X-ALD): clinical presentation and guidelines for diagnosis, follow-up and management. Orphanet Journal of Rare Diseases. 2012. 
  5. Matsukawa T, Yamamoto T, Honda A, Toya T, Ishiura H, Mitsui J, Tanaka M, Hao A, Shinohara A, Ogura M, Kataoka K, Seo S, Kumano K, Hosoi M, Narukawa K, Yasunaga M, Maki H, Ichikawa M, Nannya Y, Imai Y, Takahashi T, Takahashi Y, Nagasako Y, Yasaka K, Mano KK, Matsukawa MK, Miyagawa T, Hamada M, Sakuishi K, Hayashi T, Iwata A, Terao Y, Shimizu J, Goto J, Mori H, Kunimatsu A, Aoki S, Hayashi S, Nakamura F, Arai S, Momma K, Ogata K, Yoshida T, Abe O, Inazawa J, Toda T, Kurokawa M, Tsuji S. Clinical efficacy of haematopoietic stem cell transplantation for adult adrenoleukodystrophy. Brain Commun. 2020.
  6. Engelen M, Kemp S, Poll-The BT. X-linked adrenoleukodystrophy: pathogenesis and treatment. Curr Neurol Neurosci Rep. 2014
  7. Newborn screening of X-linked adrenoleukodystrophy (ALD) becomes part of program in the Netherlands. ELA International. Acessado em: 02/01/2024.

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